TEXTOS


TEXTO POR MICHAEL BIBERSTEIN

vista da pintura em maqueta
Créditos fotográficos: Rui Semedo da Luz



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A igreja de Santa Isabel, na freguesia de Santa Isabel em Lisboa, é como uma pedra preciosa guardada dentro de uma caixa escura com uma sombria tampa cinzenta. A luz que entra pelas janelas é largamente absorvida pelo tecto preto-mate, o que visualmente torna o espaço muito pesado, impedindo-o de respirar e desenvolver visualmente o volume desejado.

De facto, a primeira impressão que o visitante tem é um pouco deprimente – sem dúvida o oposto do que era e é pretendido: tudo no espaço foi concebido para provocar um sentimento de elevação: fiel às regras de Alberti, os elementos arquitectónicos da base são visualmente mais pesados e escuros do que os do topo, onde estão situadas as janelas, e a proximidade destas à abóbada, juntamente com o ângulo dos painéis reflectores directamente sob essas janelas, não deixa dúvida que o tecto era suposto ser a continuação do movimento para a luz, numa tonalidade suave que reflectisse e distribuísse uniformemente a luz no espaço inferior.

O meu objectivo seria o de completar a intenção original do projecto arquitectural, substituindo o sufocante manto cinzento por um céu aberto. O espaço tornar-se-á muito mais acolhedor e forte e será mais apelativo à meditação. Em vez da presente cobertura sombria e fria, terá uma jubilante abertura para um céu cósmico.
As cores do tecto ecoarão e complementarão as utilizadas nas paredes e continuarão a abrir-se de cores mais frias para mais quentes, talvez com um retorno final a um azul índigo para o mergulho no espaço profundo.



Porque razão eu? O que me leva a pensar ser a pessoa indicada para o fazer?

Antes de responder ao apelo para ser artista estudei História de Arte, com ênfase na arquitectura paleocristã e românica, e também pintura barroca, especialmente Giovanni Battista Tiepolo.
A primeira transmitiu-me um duradouro amor por espaços sagrados, que se tornou numa das três principais  preocupações do meu trabalho como fotógrafo  - sendo as outras duas as paisagens e sobretudo os “skyscapes” (fotografias de nuvens).
O segundo, Tiepolo, o grande pintor italiano de tectos foi contemporâneo da construção da igreja de Santa Isabel – de resto, passou os últimos anos da sua vida em Madrid, na corte de Carlos III, entre 1761 e 1770. É provável que tenha visitado Lisboa nessa altura e, se o fez, poderá ter visto a recentemente concluída igreja de Santa Isabel - construída ao mais novo estilo da época - um classicismo relativamente calmo e suave depois dos exaltados excessos do barroco tardio!
Estes estudos deram-me, creio, uma compreensão sobre os temas arquitecturais em questão.
Em termos práticos, a intenção nas minhas pinturas desde o início – há cerca de 40 anos – foi sempre a de provocar no espectador um estado de pacífica contemplação.
Embora nunca tenha pintado nada com estas dimensões, a minha propensão para grandes formatos levou-me a realizar obras de 3 x 20 m.
Até ao presente, pintei apenas um tecto (com a pequena dimensão de aproximadamente 4 x 6m) num castelo na Suíça – mas não tenho dúvida que a minha técnica de pintura – em finas camadas múltiplas – será ideal para as características de S. Isabel.

Filosoficamente, é verdade que sou agnóstico e não católico. Não ateu, mas agnóstico. Considero-me igualmente uma pessoa profundamente espiritual e nisso não vejo qualquer contradição. Os espaços sagrados que visitei por todo o mundo deram-me um respeito profundo pelas manifestações da nossa (humana) necessidade de espaços que induzam à tranquilidade e à concentração necessárias para elevar os nossos pensamentos da rotina do quotidiano para os valores que fazem de nós humanos. Seria uma grande honra e prazer para mim contribuir para o acabamento, depois de mais de 250 anos, de um tal espaço.


Michael Biberstein, 2010


TEXTO POR PADRE JOSÉ MANUEL P. DE ALMEIDA



vista interior do altar da igreja (situação actual)  
Créditos fotográficos: Rui Semedo da Luz



A Paróquia de Santa Isabel pretende executar obras de reabilitação na igreja de Santa Isabel, em Lisboa, Campo de Ourique.
Neste âmbito será prioritária a reparação da cobertura, o que implicará investimento específico para o qual procuramos apoio, e que permitirá a execução da pintura integral do tecto da igreja pelo artista suíço-português Michael Biberstein.

A gestão, o projecto e a execução da obras, ficarão a cargo de técnicos e artífices de mérito reconhecido cuja participação é pro bono, nomeadamente o gabinete de Engenharia A2P – Estudos e Projectos, o atelier de arquitectura Appleton & Domingos – Arquitectos. Também o artista Michael Biberstein executará a pintura do tecto sem qualquer encargo para a Igreja.

Todavia é necessário financiar apoio logístico e especializado para a execução da referida pintura pelo artista.
Neste contexto de profunda depressão económica e social, temos consciência do impacto financeiro da nossa solicitação, mas acreditamos profundamente na importância que obras como esta têm para a nossa comunidade. 
Agradeço antecipadamente a atenção que vos possa merecer a concretização desta obra. 


O Pároco
P. José Manuel Pereira de Almeida